O autor paulista José Luis dos
Santos, em seu livro “O que é cultura”, publicado pela editora brasiliense,
tendo sua primeira edição lançada em 1983, narra a importância da cultura na
evolução, transformação e criação de uma identidade própria dos mais diversos
grupos sociais.
O estudo da cultura e sua diversidade
contribuem para que cada grupo acabe respeitando as demais manifestações
culturais. Combatendo o preconceito e o distanciamento provocado pelo mesmo. O
autor também levanta uma questão importante, o porquê da variação das mais
diversas expressões culturais e qual o sentido dessa variação. Também comenta a
tentativa de hierarquizar as mais diferentes culturas, tendo como base uma
visão eurocêntrica, onde as tribos brasileiras, por exemplo, seriam
classificadas como “selvagens” enquanto o próprio europeu seria classificado
como “civilizado”, o mais alto nível hierarquia. O que acabava contribuindo
para justificar a superioridade europeia e seu domínio, numa visão racista e
etnocêntrica.
O autor aborda o conceito cultura de uma
forma genérica, como tudo que caracterize uma população humana, suas
manifestações religiosas, seus ritos, suas músicas, sua forma de dominar a
natureza. Algumas das características básicas de cultura foram utilizadas no
século XIX, adotando uma visão laica de mundo social e que a cultura é o que
nos diferencia dos demais animais: tudo que é humano é cultura. O seu estudo
aprofundado serve tanto à interesses de unificar uma nação que politicamente
não apresenta tal unidade, mesmo possuindo uma identidade cultural em comum,
como a Alemanha do Século XIX, quanto o objetivo de explorar ou dominar
sociedades que estão, segundo seu ponto de vista etnocêntrico, abaixo na escala
da evolução social. Pois, não existe forma mais enraizada de dominação do que
inserir, mesmo que através de processos conflituosos ou midiáticos, sua cultura
numa determinada sociedade (língua, música, comportamento...). Cito, como
exemplo, a obrigatoriedade do ensino da língua inglesa nas escolas (o dominando
sendo “adestrado” pelo dominador). Conclui-se então, que cultura é a dimensão do
processo social, da vida, de uma sociedade, sendo “um produto coletivo da vida
humana”.
Por mais sólidos que sejam seus
argumentos para definir o que seja cultura, tanto erudita quanto popular, certa
manifestações que para ele se classificam ou se rotulam como cultura, eu
discordaria profundamente, é o caso, por exemplo, do movimento “Funk”, que
recentemente foi “legitimado” pela Assembleia Legislativa do estado do Rio de
Janeiro como sendo um movimento cultural. Como pode um estilo de “música” sem
musicalidade, com letras carregadas de pornografia, apologia a facções
criminosas, ao uso de drogas, a precocidade sexual, com “intérpretes” que
sequer sabem cantar ser chamado de cultura? Esta “cultura” se enquadra melhor
em artigos de nosso defasado código penal, e não na academia brasileira de
letras. Mesmo sendo um traço social de um determinado grupo social (Bandidos,
traficantes, presidiários, assassinos...). Nem toda definição reflete a
realidade, nem todo conceito se adapta ao objeto estudado, Nem tudo que reluz é
ouro.
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