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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sobrenome: Preconceito.


O autor carioca Everardo P. Guimarães, em seu livro “O Que é Etnocentrismo”, tendo sua primeira edição publicada em 1984, tenta “traduzir” ou interpretar de forma bastante didática e funcional esse termo adotado para descrever algo comum entre as sociedades: o preconceito.
O que seria a palavra etnocentrismo do que apenas o sobrenome, ou sinônimo, de outra palavra que também se encaixa nas mesmas definições que a caracterizam? Quando observamos outras sociedades, outras culturas, outras organizações sociais com um olhar etnocêntrico, utilizando-se de uma maneira evolucionista, linear, hierarquizada e tendo o “outro” como ser menos civilizado e mais “selvagem”, estamos apenas usando as lentes do preconceito para observá-lo.
O preconceito, como a própria palavra auto-define, é ter um conceito predeterminado por questões que sequer conhecemos. Os estudiosos do século XVI não estavam preocupados em estudar profundamente as sociedades ou comunidades que eles consideravam abaixo nessa hierarquização social. Normalmente, eles só se preocupavam em tentar compreender “o outro” quando havia um interesse maior que motivasse tal pesquisa. Seja, por exemplo, para explorar a mão de obra dos nativos pré- colombianos, sua catequização ou simplesmente explorar suas riquezas naturais.
O etnocentrismo é constantemente abordado na ficção. O filme “Avatar”, por exemplo, na minha humilde opinião, pode ser um exemplo bem típico: “eu”, o ser civilizado e superior, estabeleço contato com “o outro”, lhe ensino minha cultura, que acredito servir para lhes tirar do estado selvagem, aprendo seus hábitos, mas tudo motivado por um interesse maior, que é o de explorar seus valiosos e raros recursos naturais.
Este termo, segundo o próprio autor, só começa a ser “exorcizado” no século XX, mesmo que de forma tímida, pois até hoje este “fantasma” nos assombra. Porém, o campo da antropologia tem um papel fundamental para tentarmos compreender o “outro” não com uma visão de melhores ou piores que nós mesmos, apenas diferentes, com suas próprias crenças, valores, princípios éticos e políticos. Somos tão estranhos a eles, que eles são para nós.
Lembro-me, no início do curso, quando o professor Raphael Almeida, nos trouxe para a aula de Antropologia o texto de Horace Miner “As práticas Mágicas entre os Naciremas”, como a turma ficou perplexa ao ler uma transcrição de comportamentos tão estranhos a nós, no entanto, um dia nos chega a revelação de que aquelas práticas tão estranhas e assustadoras se tratava de um diálogo descrevendo nossos próprios hábitos, como se fossem descritos com base numa observação do “outro” sobre nosso próprio comportamento. Da mesma forma que avaliamos, julgamos e criticamos os hábitos e costumes do “outro”, ele também faz o mesmo sobre nós, somos “alienígenas” em sua própria concepção de mundo.
Este termo perde um pouco de sua força quando percebemos que tentar classificar uma determinada sociedade com um olhar evolucionista, linear e distante é errônea, pois as culturas são multilineares e estão constantemente em ebulição, se hibridizando, se transformando, se adaptando dependendo de seus próprios fatores, seus próprios reagentes sociais. O Pensamento etnocêntrico apenas favorece seus próprios defensores, que sem ele têm dificuldade de visualizar um mundo plural, multicultural e que não existam etnias superiores ou inferiores. Franz Boas, segundo o autor, nos deixa mais perguntas do que respostas, levanta mais hipóteses do que realmente afirma conceitos. Mas defendia que o “outro” também tem direito de escrever sua própria história, sem que necessariamente ela se cruze com a nossa.
      Enfim, concordando com o autor, o grande salto rumo a ruptura do pensamento etnocêntrico é dado por Malinowski, abandonando o conforto dos gabinetes e mergulhando no mundo do “outro” através do Trabalho de Campo. Se aprofundando na cultura e no espaço geográfico em que vivem, porém, segundo ele , não raramente, “a antropologia contraria sua vocação de preservar a experiência da diversidade, quando a própria matéria é forjada na ótica do “eu” tentando compreender o “outro””, mantendo a visão hierarquizada. Enquanto o olhar preconceituoso sobre o outro existir, haverá etnocentrismo e vice versa. Quando o Homem for capaz de ver seu próximo, respeitar sua cultura e seus ritos estaremos, enfim, num mundo ideal.


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