CULTURA, PARENTESCO E RELIGIÃO NO MUNDO AFRO-PORTUGUÊS (1441-1770) –
JAMES H. SWEET – RECRIAR ÁFRICA, LUGAR DE HISTÓRIA.
CAPÍTULO
10 E CONCLUSÃO.
O
IMPACTO DAS CRENÇAS RELIGIOSAS AFRICANAS NO CATOLICISMO BRASILEIRO
O autor fala nesse capítulo final de sua
obra que apesar de várias tentativas de conversão do povo africano ao
catolicismo, a cultura religiosa africana não fora arrancada do cotidiano do
povo escravizado, pelo contrário, se tornou uma arma contra a opressão, contra
a própria escravidão e, até mesmo, contribuindo para a formação de uma
identidade genuinamente brasileira, a partir das misturas entre as diversas
culturas. O próprio europeu acabava adotando elementos da crença africana.
Talvez, essa interação fosse tão intensa,
devido os cultos africanos atenderem de forma mais rápida as preces que os
católicos faziam. Essas práticas acabavam sendo mais reais mais palpáveis.
Dessa forma, católicos acabavam
recorrendo a rituais africanos, até que o Concílio de Trento (1545 – 1563 / 19°
concílio), a igreja tornou-se menos tolerante a essas práticas. Retomado as
ideias de “selvajaria”, “paganismo”, rotulando os cultos africanos como obras
do Diabo.
Esse Concílio convocado pelo Papa Paulo
III, tinha como objetivo assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica,
realizado na cidade de Trento, na província autônoma de Trento, região do tirol
italiano. Se estendeu por vários anos devido uma sequência de interrupções
devido a divergências políticas e religiosas.
Abaixo,
imagem retratando sessão do Concílio de Trento.
Apesar das diversas tentativas de
erradicação das crenças africanas, a igreja consegue criminalizar, marginalizar
e exorcizar suas práticas, disseminando uma opinião generalizada sobre seu
primitivismo.
Uma guerra “santa” entre os europeus
cristãos, a serviço de deus, e os africanos primitivos e pagãos a serviço do
diabo. Essa era a ótica estabelecida.
Abaixo,
Africanos no Brasil dançando um batuque, por Debret.
O autor cita alguns exemplos de como a religiosidade e crenças cristãs muitas
vezes se misturavam aos rituais africanos, uma miscigenação religiosa que era
abolida por líderes religiosos cristãos , mas estava presente no dia-a-dia da
população.
Essa relação acabava inclusive invertendo a
hierarquia social a partir dessas
necessidades religiosas. Estabelecendo, inclusive, relação de submissão de um senhor de escravos
ao seu cativo, em troca de favores religiosos, rituais e feitiços, dando-lhe
presentes como frutas e fumo.
“O poder religioso africano funcionava como uma das formas
mais poderosas de resistência a escravatura e á opressão racial.”
Quanto mais as autoridades eclesiásticas
combatiam o poder da religião africana, mais a legitimavam, reconhecendo-a como
poderosa.
Isso causava uma ruptura dentro do clero,
entre os clérigos que queria por em prática o Concílio de Trento, considerando
os rituais africanos como obras demoníacas, e os que defendiam uma
flexibilização devido a realidade brasileira e que rituais africanos muitas
vezes seriam mais eficazes.
Houve ainda padres que chegaram a
“africanizar” rituais cristãos ( como o padre Alberto), que “adaptou” o
exorcismo com elementos de rituais africanos, mas fora julgado pelo tribunal de
inquisição, que o proibiu de praticar ritos que não seguissem a risca os dogmas
da cristandade.
“Ao naturalizar certos princípios religiosos africanos,
os padres católicos foram capazes de responder as transformações nas necessidades
dos seus paroquianos. E apesar de terem sido africanizados, os princípios
fundamentais permaneceram inalterados.”
A realidade no Brasil colônia forçou
tanto o catolicismo quanto as religiões de raízes africanas a promoverem um
intercâmbio de conhecimentos, uma releitura de suas práticas, enfim, uma
reinvenção de si mesma que beneficiou ambos os lados.
O autor nos trouxe até aqui uma análise
geral das práticas culturais e religiosas dos africanos no mundo colonial
católico do século XVII ao XVIII. Como as práticas religiosas da África,
encontrando resistência do catolicismo, mas mesmo assim, serviu de alicerce
para as fundações religiosas e multiculturais que somada as práticas europeias,
originou uma autêntica identidade cultural brasileira.
“Os rituais mais comuns dos escravos brasileiros dos
séculos XVII e XVIII eram provavelmente de origem Mbundo.”
O autor chega a chamar de “resistência
psicológica”, a névoa de paranoia que encobria as mentes dos brancos, que
temiam a religião africana, por entender que através de feitiços e magia, sua
colheita, seu gado, ou até mesmo sua saúde e vida poderiam estar em perigo.
Por fim, esse medo do catolicismo e as
diversas tentativas de extermínio, só conseguiram legitimar ainda mais o poder
das crenças africanas e por muitas vezes, padres acabavam incorporado em seus
sermões, elementos da cultura africana, para, que dessa forma, não perdessem
tantos fiéis para esse culto “primitivo”, pagão” ou do “diabo”.
BIBLIOGRAFIA
SWEET, James H
Cultura, Parentesco e Religião no Mundo Afro-Português
(1441-1770), Lugar de História, Capítulo 10 e Conclusão. Páginas 255-271.
Nenhum comentário:
Postar um comentário