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domingo, 12 de julho de 2015

RECRIAR ÁFRICA: CAPÍTULO 10 E CONCLUSÃO.

CULTURA, PARENTESCO E RELIGIÃO NO MUNDO AFRO-PORTUGUÊS (1441-1770) – JAMES H. SWEET – RECRIAR ÁFRICA, LUGAR DE HISTÓRIA.
CAPÍTULO 10 E CONCLUSÃO.
O IMPACTO DAS CRENÇAS RELIGIOSAS AFRICANAS NO CATOLICISMO BRASILEIRO




      O autor fala nesse capítulo final de sua obra que apesar de várias tentativas de conversão do povo africano ao catolicismo, a cultura religiosa africana não fora arrancada do cotidiano do povo escravizado, pelo contrário, se tornou uma arma contra a opressão, contra a própria escravidão e, até mesmo, contribuindo para a formação de uma identidade genuinamente brasileira, a partir das misturas entre as diversas culturas. O próprio europeu acabava adotando elementos da crença africana.
      Talvez, essa interação fosse tão intensa, devido os cultos africanos atenderem de forma mais rápida as preces que os católicos faziam. Essas práticas acabavam sendo mais reais mais palpáveis.
      Dessa forma, católicos acabavam recorrendo a rituais africanos, até que o Concílio de Trento (1545 – 1563 / 19° concílio), a igreja tornou-se menos tolerante a essas práticas. Retomado as ideias de “selvajaria”, “paganismo”, rotulando os cultos africanos como obras do Diabo.
      Esse Concílio convocado pelo Papa Paulo III, tinha como objetivo assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, realizado na cidade de Trento, na província autônoma de Trento, região do tirol italiano. Se estendeu por vários anos devido uma sequência de interrupções devido a divergências políticas e religiosas.
Abaixo, imagem retratando sessão do Concílio de Trento.
      Apesar das diversas tentativas de erradicação das crenças africanas, a igreja consegue criminalizar, marginalizar e exorcizar suas práticas, disseminando uma opinião generalizada sobre seu primitivismo.
      Uma guerra “santa” entre os europeus cristãos, a serviço de deus, e os africanos primitivos e pagãos a serviço do diabo. Essa era a ótica estabelecida.
Abaixo, Africanos no Brasil dançando um batuque, por Debret.

      O autor cita alguns exemplos de como  a religiosidade e crenças cristãs muitas vezes se misturavam aos rituais africanos, uma miscigenação religiosa que era abolida por líderes religiosos cristãos , mas estava presente no dia-a-dia da população.
      Essa relação acabava inclusive invertendo a hierarquia  social a partir dessas necessidades religiosas. Estabelecendo, inclusive,  relação de submissão de um senhor de escravos ao seu cativo, em troca de favores religiosos, rituais e feitiços, dando-lhe presentes como frutas e fumo.
“O poder religioso africano funcionava como uma das formas mais poderosas de resistência a escravatura e á opressão racial.”

     
      Quanto mais as autoridades eclesiásticas combatiam o poder da religião africana, mais a legitimavam, reconhecendo-a como poderosa.
      Isso causava uma ruptura dentro do clero, entre os clérigos que queria por em prática o Concílio de Trento, considerando os rituais africanos como obras demoníacas, e os que defendiam uma flexibilização devido a realidade brasileira e que rituais africanos muitas vezes seriam mais eficazes.
      Houve ainda padres que chegaram a “africanizar” rituais cristãos ( como o padre Alberto), que “adaptou” o exorcismo com elementos de rituais africanos, mas fora julgado pelo tribunal de inquisição, que o proibiu de praticar ritos que não seguissem a risca os dogmas da cristandade.
“Ao naturalizar certos princípios religiosos africanos, os padres católicos foram capazes de responder as transformações nas necessidades dos seus paroquianos. E apesar de terem sido africanizados, os princípios fundamentais permaneceram inalterados.”

      A realidade no Brasil colônia forçou tanto o catolicismo quanto as religiões de raízes africanas a promoverem um intercâmbio de conhecimentos, uma releitura de suas práticas, enfim, uma reinvenção de si mesma que beneficiou ambos os lados.
      O autor nos trouxe até aqui uma análise geral das práticas culturais e religiosas dos africanos no mundo colonial católico do século XVII ao XVIII. Como as práticas religiosas da África, encontrando resistência do catolicismo, mas mesmo assim, serviu de alicerce para as fundações religiosas e multiculturais que somada as práticas europeias, originou uma autêntica identidade cultural brasileira.
“Os rituais mais comuns dos escravos brasileiros dos séculos XVII e XVIII eram provavelmente de origem Mbundo.”

      O autor chega a chamar de “resistência psicológica”, a névoa de paranoia que encobria as mentes dos brancos, que temiam a religião africana, por entender que através de feitiços e magia, sua colheita, seu gado, ou até mesmo sua saúde e vida poderiam estar em perigo.
      Por fim, esse medo do catolicismo e as diversas tentativas de extermínio, só conseguiram legitimar ainda mais o poder das crenças africanas e por muitas vezes, padres acabavam incorporado em seus sermões, elementos da cultura africana, para, que dessa forma, não perdessem tantos fiéis para esse culto “primitivo”, pagão” ou do “diabo”.

BIBLIOGRAFIA
SWEET, James H
Cultura, Parentesco e Religião no Mundo Afro-Português (1441-1770), Lugar de História, Capítulo 10 e Conclusão. Páginas 255-271.


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