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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Pegadas da Escravidão na Pequena África.


(Este é o relatório do estudo de campo com o tema “Entre a vida e a morte: o Rio de Janeiro dos africanos”, que fez parte do curso de formação continuada “Patrimônio, Memória e Cultura Afro Brasileira na Baixada Fluminense, realizado em 24 de maio de 2014.)

      Ministrado pelos professores Nielson Bezerra  e Cláudio Honorato, o estudo de campo que fez parte do curso de formação continuada “Patrimônio, Memória e Cultura Afro Brasileira na Baixada Fluminense teve por objetivo seguir as pegadas deixadas pelos africanos cativos e escravizados, desde o desembarque no porto do Rio de Janeiro ( Praça XV) até seu descanso desonroso no cemitério dos pretos novos, onde seus corpos amontoados eram queimados, descartados como lixo. Onde, atualmente funciona o Instituto dos Pretos Novos, uma forma de preservar a memória daqueles que tanto sofreram os males da escravidão.
      Ainda no Paço Imperial (Praça XV), tivemos uma palestra com o professor Nielson Bezerra sobre a importância do Rio de Janeiro na rota do comércio de negros escravizados. Assim que desembarcavam, passavam por uma triagem, na ilha cedida pelos jesuítas, a Ilha de Villegagnon, que ficou conhecida como o Degredo das Bexigas, onde separavam os negros doentes, os mortos, as mulheres, as crianças, os idosos. Após sobreviverem a captura e a longa jornada entre dois continentes, eram separados por um imenso  oceano, onde sua turbulência era sentida pelo lado de dentro das embarcações, a partir da violência, do açoite e dos assassinatos, eram levados para depósitos na Rua Direita ( atual 1° de março), e expostos para venda.
      Ao passarmos pelo Arco dos Teles, conhecemos um pouco mais sobre o processo de urbanização no entorno do que se tornou sede da coroa no Brasil. Com construções que funcionavam tanto como residências quanto estabelecimentos comerciais.
      Conhecemos a  atual Casa França Brasil, onde em meados do século XVIII servia como Alfândega, por onde passavam tanto mercadorias quanto escravos (com a proibição da comercialização de escravos, cabe a Baixada Fluminense, ou ao Recôncavo da Guanabara, principalmente Magé, ser incluída na rota do tráfico negreiro).
      Passamos também pela 4ª Paróquia da Cidade do Rio de Janeiro, a Igreja de Santa Rita de Cássia (1702-1719), onde ainda estão enterrados os restos mortais de seus idealizadores (Manuel nascente Pinto e sua esposa), cujo interior, também conta com representações de várias irmandades, inclusive irmandade de negros, ficando evidente que a religiosidade era utilizada para disciplinar os escravos, tornando-os mais receptivos a condição de servidão, que, por meio dela se alcançaria a liberdade da alma.
      Outro ponto visitado foi a Pedra do Sal, no bairro da Saúde, conhecido como "Berço do Samba" e do choro, era um local de trabalho árduo, mas também mantinha acesa a chama da cultura africana, que foi tombada em 20 de novembro de 1984 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.
      Além da Pedra do Sal, o bairro da Saúde também conta com o Porto do Valongo, redescoberto nas obras do Porto Maravilha (em 1843 foi rebatizado como Porto da Imperatriz, em homenagem a Imperatriz D. Tereza Cristina). A princípio, pensava-se que o porto do Valongo teria recebido milhares de escravos, mas pesquisas recentes dão indícios que se tratava de um porto de policiamento, segundo o prof° Claudio Honorato.
      Por fim, conhecemos o Instituto dos Pretos Novos (Rua Pedro Ernesto 36), onde em janeiro de 1996, na ocasião de uma reforma numa residência, se redescobriu o que seria o cemitério dos pretos novos, negros cativos que não chegaram a ser escravizados e que foram prematuramente acolhidos pelos piedosos braços da morte. Esse sítio arqueológico guarda as ossadas de milhares de africanos, que anônimos serviram como alicerce de nossa cidade.
      Mais de 10 milhões de cativos, retirados brutalmente de seu continente natal entre 1500 e 1850, para serem escravizados até seus últimos suspiros, na América recém-descoberta, quase metade desse total desembarcou em terras tupiniquins. Com a descoberta do ouro e diamantes em Minas Gerais, o fluxo de escravos se intensificou no Rio de Janeiro. Cerca de 40% dos negros escravizados que chegavam ao Rio de Janeiro, sobreviviam no máximo 4 anos.
      Com a chegada da família real no Rio de Janeiro, em 1808 e com a abertura dos portos em 1815, a cidade passou por um salto populacional desordenado, que obrigou tanto o cemitério dos negros novos quanto o próprio comércio negreiro para a região do Valongo (Gamboa, Saúde e Santo Cristo), também conhecida como Pequena África, devido a grande concentração de africanos. Esse cemitério funcionou entre 1779 e 1830. A própria rua era conhecida como  Caminho do Cemitério, no início do século XVIII.
      Segundo relatos de viajantes do século XIX, o cemitério dos pretos novos se resumia a um enorme amontoado de cadáveres a céu aberto.

      Em resumo, esse roteiro histórico - arqueológico desvendado pelos professores citados logo no início desse relatório, nos faz perceber o centro do Rio de Janeiro com outro olhar, uma lente que nos revela uma cidade a beira mar, onde sua água salgada se mistura com o sangue e suor daqueles que foram capturados e trazidos como animais. Escravizados numa lógica onde seres humanos, se utilizando muitas vezes do discurso religioso, 
submetiam outros seres humanos á seus caprichos. 
O IPN ( Instituto dos pretos Novos está aberto a visitação, e essa oficina a céu aberto lhe proporcionará uma nova visão do centro do rio de Janeiro).

IPN, Oficinas gratuitas: http://pretosnovos.blogspot.com.br/ 

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