(Este é o relatório do estudo de campo com o tema
“Entre a vida e a morte: o Rio de Janeiro dos africanos”, que fez parte do
curso de formação continuada “Patrimônio, Memória e Cultura Afro Brasileira na
Baixada Fluminense, realizado em 24 de maio de 2014.)
Ministrado pelos professores Nielson
Bezerra e Cláudio Honorato, o estudo de
campo que fez parte do curso de formação continuada “Patrimônio, Memória e
Cultura Afro Brasileira na Baixada Fluminense teve por objetivo seguir as
pegadas deixadas pelos africanos cativos e escravizados, desde o desembarque no
porto do Rio de Janeiro ( Praça XV) até seu descanso desonroso no cemitério dos
pretos novos, onde seus corpos amontoados eram queimados, descartados como
lixo. Onde, atualmente funciona o Instituto dos Pretos Novos, uma forma de
preservar a memória daqueles que tanto sofreram os males da escravidão.
Ainda no Paço Imperial (Praça XV), tivemos uma
palestra com o professor Nielson Bezerra sobre a importância do Rio de Janeiro
na rota do comércio de negros escravizados. Assim que desembarcavam, passavam
por uma triagem, na ilha cedida pelos jesuítas, a Ilha de Villegagnon, que
ficou conhecida como o Degredo das Bexigas, onde separavam os negros doentes,
os mortos, as mulheres, as crianças, os idosos. Após
sobreviverem a captura e a longa jornada entre dois continentes, eram separados por um
imenso oceano, onde sua turbulência era sentida pelo lado de
dentro das embarcações, a partir da violência, do açoite e dos assassinatos, eram levados para depósitos na Rua Direita ( atual 1° de março), e expostos
para venda.
Ao passarmos pelo Arco dos Teles,
conhecemos um pouco mais sobre o processo de urbanização no entorno do que se
tornou sede da coroa no Brasil. Com construções que funcionavam tanto como
residências quanto estabelecimentos comerciais.
Conhecemos a atual Casa França Brasil, onde em
meados do século XVIII servia como Alfândega, por onde passavam tanto
mercadorias quanto escravos (com a proibição da comercialização de escravos,
cabe a Baixada Fluminense, ou ao Recôncavo da Guanabara, principalmente Magé,
ser incluída na rota do tráfico negreiro).
Passamos também pela 4ª Paróquia da
Cidade do Rio de Janeiro, a Igreja de Santa Rita de Cássia (1702-1719), onde
ainda estão enterrados os restos mortais de seus idealizadores (Manuel nascente
Pinto e sua esposa), cujo interior, também conta com representações de várias
irmandades, inclusive irmandade de negros, ficando evidente que a religiosidade
era utilizada para disciplinar os escravos, tornando-os mais receptivos a
condição de servidão, que, por meio dela se alcançaria a liberdade da alma.
Outro ponto visitado foi a Pedra do Sal,
no bairro da Saúde, conhecido como "Berço do Samba" e do choro, era um local de
trabalho árduo, mas também mantinha acesa a chama da cultura africana, que foi
tombada em 20 de novembro de 1984 pelo Instituto Estadual do Patrimônio
Cultural.
Além da Pedra do Sal, o bairro da Saúde
também conta com o Porto do Valongo, redescoberto nas obras do Porto Maravilha
(em 1843 foi rebatizado como Porto da Imperatriz, em homenagem a Imperatriz D.
Tereza Cristina). A princípio, pensava-se que o porto do Valongo teria recebido
milhares de escravos, mas pesquisas recentes dão indícios que se tratava de um
porto de policiamento, segundo o prof° Claudio Honorato.
Por fim, conhecemos o Instituto dos
Pretos Novos (Rua Pedro Ernesto 36), onde em janeiro de 1996, na ocasião de uma
reforma numa residência, se redescobriu o que seria o cemitério dos pretos
novos, negros cativos que não chegaram a ser escravizados e que foram
prematuramente acolhidos pelos piedosos braços da morte. Esse sítio
arqueológico guarda as ossadas de milhares de africanos, que anônimos serviram
como alicerce de nossa cidade.
Mais de 10 milhões de cativos, retirados
brutalmente de seu continente natal entre 1500 e 1850, para serem escravizados
até seus últimos suspiros, na América recém-descoberta, quase metade desse
total desembarcou em terras tupiniquins. Com a descoberta do ouro e diamantes em
Minas Gerais, o fluxo de escravos se intensificou no Rio de Janeiro. Cerca de
40% dos negros escravizados que chegavam ao Rio de Janeiro, sobreviviam no
máximo 4 anos.
Com a chegada da família real no Rio de
Janeiro, em 1808 e com a abertura dos portos em 1815, a cidade passou por um
salto populacional desordenado, que obrigou tanto o cemitério dos negros novos
quanto o próprio comércio negreiro para a região do Valongo (Gamboa, Saúde e
Santo Cristo), também conhecida como Pequena África, devido a grande
concentração de africanos. Esse cemitério funcionou entre 1779 e 1830. A
própria rua era conhecida como Caminho
do Cemitério, no início do século XVIII.
Segundo relatos de viajantes do século
XIX, o cemitério dos pretos novos se resumia a um enorme amontoado de cadáveres
a céu aberto.
Em resumo, esse roteiro histórico - arqueológico desvendado pelos professores citados logo no início desse
relatório, nos faz perceber o centro do Rio de Janeiro com outro olhar, uma
lente que nos revela uma cidade a beira mar, onde sua água salgada se mistura
com o sangue e suor daqueles que foram capturados e trazidos como animais.
Escravizados numa lógica onde seres humanos, se utilizando muitas vezes do
discurso religioso,
submetiam outros seres humanos á seus caprichos.
submetiam outros seres humanos á seus caprichos.
O IPN ( Instituto dos pretos Novos está aberto a visitação, e essa oficina a céu aberto lhe proporcionará uma nova visão do centro do rio de Janeiro).
IPN, Oficinas gratuitas: http://pretosnovos.blogspot.com.br/
IPN, Oficinas gratuitas: http://pretosnovos.blogspot.com.br/
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