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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

SEGREGAÇÃO JUDAICA.

    

  O filme “O Mercador de Veneza”, de 2004, é baseado na obra homônima de William Shakespeare, que teria sido escrito entre 1596 e 1598 (século XVI), no entanto, alguns elementos do texto, como a morte de um mercador devido ao não pagamento de uma dívida, o teste que os pretendentes de uma donzela eram submetidos para conquistarem o direito de cortejá-la, a libra de carne como pagamento de uma dívida, um anel como pagamento a um jurista por seus serviços  estão presentes também no conto “II Pecorone”, do autor italiano Giovanni Fiorentino, publicado em Milão, em 1558. O próprio julgamento é encontrado na peça “O Orador”, de Alexandre Syluane, publicada em 1596.
      Além dos romances e da atuação jurídica, o texto expõe a intensa segregação que os cristãos submetiam aos judeus, colocando-os como cidadãos de segunda classe, ou pior. Os cristãos tratavam os judeus com intolerância e ódio, os submetiam a morarem na periferia das cidades, nos guetos, e usarem um bojo vermelho para os identificarem enquanto judeus. Temas como intolerância, amor, ódio, usura (empréstimo a juros), vingança e amizade estão fortemente presentes no texto.
      Ambientado no século XVI, os personagens vivem suas aventuras e conflitos. O mercador Antônio (Jeremy Rons) é um rico comerciante cristão, mas toda sua fortuna está empregada nas navegações em busca por mais riquezas. Ele é procurado por seu amigo Bassânio (Joseph Fiennes) que lhe pede um empréstimo, para que possa cortejar a desejada e rica herdeira de Belmont, Pórtia (Lynn Collins), que submetia seus pretendentes ao teste do baú, que só se casaria com aquele que escolhesse o baú que guardava sua imagem.
      Antônio, não se encontrando em condições financeiras favoráveis para atender ao amigo, recorre ao judeu Shylock (Al Paccino), que sendo uma vítima, junto com os demais judeus, da intolerância e ódio dos cristãos, empresta-lhe três mil ducados, sem cobrar nenhum ágio, apenas, que como pagamento de multa, caso seu pagamento não fosse efetuado, de um pedaço de sua própria carne ( uma libra de carne).
      O ápice dessa obra é o julgamento que define o cumprimento do contrato. Pórtia, disfarçada do jurista Baltazar, lhe concede o ganho de causa, mas exige que na retirada da libra exata de carne, não seja derramada uma só gota de sangue, pois o contrato é claro, e lhe concede apenas a carne, não o sangue. O que acaba por pôr o judeu numa cilada jurídica.
      A reviravolta judicial, não para com a perda da ação pelo judeu e em salvar a vida do mercador, vai além. O Estado confisca metade dos bens do judeu e declara o mercador como guardião legal da outra metade, até a morte do judeu, após isso, seria dado a sua foragida filha Jéssica ( Zuleikh Robinson) e seu esposo Lourenço ( Charlie Cox), e , por fim, a conversão ao cristianismo, que lhe pouparia a vida, o que poderia ser avaliada por uma plateia antissemita como um “final feliz”.
      O texto, considerado antissemita por muitos pesquisadores, sempre trouxe o personagem do judeu como um vilão rancoroso e bastante caricaturado. Essa obra serviu como ferramenta para reforçar o antissemitismo inglês do período Elizabetano, já que os judeus ingleses haviam sido expulsos no período medieval. Os judeus eram explorados nas peças teatrais e obras literárias, como inimigos públicos, descritos como avarentos, usando perucas vermelhas (uma alusão ao chapéu vermelho que identificava os judeus). A obra de Chistopler Marlowe, por exemplo, “O Judeu de malta”, que falava sobre o judeu Barrabás, um personagem vil e ganancioso, porém, o mais rico e prospero habitante da ilha de Malta.
      No século XVI, os judeus viviam nos guetos, identificados com um chapéu vermelho. Para a plateia inglesa cristã e antissemita, a edição de 1619 foi batizada como “Com a Extrema Crueldade de Shylock, o Judeu”. O nazismo também se utilizou desse texto para propagar o ódio contra os judeus.
      O cristianismo, que prega o amor em suas sagradas escrituras, parece não ter a mesma capacidade para exercer o amor e a tolerância para com aqueles que não compartilham suas crenças. O respeito à crença do outro não seria um exemplo a ser dado para que o outro também respeite a nossa?
      Concluo esse trabalho com a fala de Shylock, que a meu ver, é um apelo pela tolerância e respeito entre os diferentes, que não é tão diferente quanto pensa.

Os judeus não tem olhos? Os judeus não têm mãos, órgãos, dimensões, sentidos, inclinações, paixões? Não ingerem os mesmos alimentos, não se ferem com as armas, não estão sujeitos ás mesmas doenças, não se curam com os mesmos remédios, não se aquecem e refrescam com o mesmo verão e o mesmo inverno que aquecem e refrescam os cristãos? Se nos espetarmos, não sangramos? Se nos fizerdes cócegas, não rimos? Se nos derdes veneno, não morremos? E se nos ofendermos, não devemos vingar-nos? Se em tudo o mais somos iguais a vós, teremos de ser iguais também a esse respeito. Se um judeu ofende a um cristão, qual é a humildade deste? Vingança. Se um cristão ofende a um judeu, qual deve ser a paciência deste, de acordo com o exemplo do cristão? Ora, vingança. Hei de por em prática a maldade que me ensinastes, sendo de censurar se eu não fizer melhor do que a encomenda.” (Ato III, Cena I).

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